Souhaiter - do Anseio ao Mestrado
TEATRALIDADE FOTOGRÁFICA: IMAGEM SINTOMA E DIREÇÃO DE ARTE
Le début - O começo
Wassily Kandinsky (Do espiritual na arte, 1912)
1.
2. Segundo o artivista francês Thierry Geoffroy em sua CUB - COPENHAGEN ULTRACONTEMPORARY BIENNALE - os artistas são "termômetros para detectar, medir e diagnosticar as disfunções da sociedade". Enquanto artista e educadora compartilho deste pensamento de que os artistas são antenas do mundo, partes sensíveis que captam e de forma plástica transmitem as sensações, angustias, emoções e aflições de sua época. Conosco não seria diferente e comigo não foi.
3. 2020, veio o isolamento social. Tinha mudado para meu atual apartamento no final de 2019, ou seja, a pouco tempo tinha começado a morar só, mais perto do trabalho e do centro da cidade. Quase não parava em casa, até comentava que tinha alugado um apartamento para meus gatos morarem e eu ir pousar a noite. Com o lockdown, me vi em casa 24 hrs, não digo só pois que tem animais tem tudo, e eu me sinto muito feliz com meus bichanos, mas me vi em uma situação jamais pensada, de estar isolada de outros humanos. Veio também o homeoffice, onde tudo que foi pensado presencialmente enquanto educadora, tive que adaptar para as telas de um computador/celular. O primeiro e o segundo semestre não foram nada fácies, as dificuldades tecnológicas, a falta de equipamentos tecnológicos, a diferença de realidade entre os alunos e também entre os professores, foram se tornando cada vez mais reais, mais emergenciais, mais cobranças apareceram para os educadores e nenhum suporte de fato oferecido. Como oferecer um trabalho de qualidade, um ensino de qualidade, quando o suporte para o professor é o mínimo e a cobrança mais alta a cada dia?
A então frase: ''educador por amor'' foi proferida muitas vezes, mas ao tentar pagar meus 'boletos' com amor, nenhum banco aceitou. Não se pode fazer sempre tudo por amor, sacrifícios por amor, educar os frutos de um país por amor. Então ser professor num momento caótico é um dos maiores atos de resistência em um país que desvaloriza completamente a educação.

"A gente busca viver com os conflitos, suportá-los, e a arte tem esse papel porque nos ajuda a elaborar os significados. A arte produz novas formas de ver e pensar a vida, ela é uma transformação da realidade. E, nesse sentido, é fundamental para todos", explica o psiquiatra e fundador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Fiocruz, Paulo Amarante. "A arte é, fundamentalmente, diálogo, uma forma de conversar e de falar. Por isso eu acho muito importante neste momento de pandemia vermos como as pessoas trocam informações: elas mandam músicas que gostam, acham vídeos interessantes, e fazem isso no sentido de expressar diálogo".
Reportagem, dossiê 219- A arte pode melhorar estados emocionais em períodos de isolamento social https://www.comciencia.br/a-arte-melhora-estados-emocionais-durante-a-pandemia/
Neste site então eu ofereço meus olhos para mostrar a realidade que vejo, que sinto, o que necessito expressar e que pode em algum ponto te transbordar.
Le Chaos- 1°ONDA - Obras de arte sob a pandemia Covid-19

Aqui trago um breve relato sobre o processo da 1ª Onda, tendo em vista que na aba do MENU a sua esquerda, você consegue acompanhar todo o trabalho na integra.
A 1° onda nasceu da junção entre as características profissionais de diretora de arte e fotógrafa, amante de pinturas clássicas e de caracterização da cena e da personagem. Tudo começou como um quadro, este ai logo a cima, Lé désespéré do pintor Gustave Coubert. Quadro este que exprime no olhar em minha leitura o desespero que comecei/começamos a enfrentar com a nova realidade que se alastrava a cada dia.
O uso da máscara sufocante, ainda sem muitas informações de qual tipo de máscara usar, como usar, como higienizar, o uso do álcool nas mãos; o processo de desinfetar roupas; sapatos; alimentos; compras de supermercado; notícias de pessoas fazendo estoques de comidas e itens de necessidades básicas, os mesmo itens começando a faltar nos supermercados/farmácias; o receio de tocar nas pessoas, de respirar perto das pessoas; o receio de se contaminar no ônibus; um descaso aparente e um julgamento nos rostos daqueles que não se cuidam tanto e não acreditam no poder mortífero do vírus; ler notícias em jornais estrangeiros; acompanhar o mundo morrendo; alertar seus familiares sobre os cuidados e ver que os mesmos não acreditam em você; ter as informações fakes; ter as informações verdadeiras e torcer lá no fundo pra que elas fossem falsas por conta da atrocidade das mesmas; escutar que fulano amigo de ciclano internou; ver seus amigos de colégio morrerem, um amigo próximo que se foi, seu pai falecer.... aaaaahh o grito de desespero entalado, velado, encoberto, deserto.
Que amargura vivemos, é vasta a trilha da dor, do pedido de socorro, do sentimento de impotência, insuficiência, da pequenez do homem e da efemeridade do tempo. Com o covid-19, muito foi revelado sobre o eu, o que eu costumo repetir aos meus amigos é: Quem não evoluiu pra melhor hoje, não percebeu o que realmente importa, o que realmente tem valor, não evolui nunca mais. Há coisas que não voltam, uma delas é o tempo com as pessoas, as palavras que proferimos a elas, os momentos bons que pudemos proporcionar, não importa o dinheiro, o lugar, o status, só o quanto você pode estar presente, ser presente.
A cada leitura fotográfica um sentimento era materializado em fotografia, um sentimento em isolamento, um novo processo do fazer artístico, uma nova aprendizagem no processo, um novo surto, uma catarse diferente, um autoconhecimento, uma reflexão sobre os valores, dores, amores...
Mas em meio a tudo isso, há também momentos para se apreciar as qualidades técnicas, há momentos de prazer na construção da imagem, há momentos de se apreciar a beleza de transformar uma sala no centro do Brasil em um palco sem fronteiras e ver que a arte e a vida sempre encontram uma maneira.
Espero que o mundo acorde para o que realmente precisa ser apreciado, amado, velado, para o que precisa de nosso tempo, nosso lazer, nosso afeto. As pessoas não voltam, o tempo não volta, nossa energia não deve ser doada em empregos sem fim, devemos trabalhar para viver e não viver para trabalhar, não devemos ficar trancados em salinhas onde a gente passa o dia sem ver a beleza do céu, sem ver nossos pais, filhos, parentes, amigos...
Sigo fazendo arte como forma de permanência, de aparato para a sobrevivência e ato de resistência. Como meio de ver verdade, dor e beleza por trás de olhos cobertos por um véu de lágrimas.
Vincent van Gogh
Étincelle - Fagulha
Vincent van Gogh

Em 2019 é lançado o primeiro edital para o programa de pós graduação em Artes da Cena (PPGAC) e alguns amigos da academia me incentivaram a fazer o processo. Infelizmente eu estava me estruturando financeiramente e passando por trocas de emprego, manter a vida financeira veio se tornado algo cada mais desafiador O saudosismo bateu com a oportunidade de retornar a academia e a EMAC (Escola de música e Artes Cenas), local que fiz minha graduação e que lecionei durante dois anos no curso de Direção de Arte.
2020 - caos - pandemia - crise política no Brasil com um dos piores presidentes da História do país - confinamento- Nos vemos totalmente privados a rotina que levava na vida adulta, novos sentimentos se instalam e os principais são o de medo e a insuficiência. Torcíamos para o caos ser breve, ser rápido de ser 'arrumar', mas nos deparamos com uma situação que se estendeu por mais de 3 meses, 6 meses, 1 ano.
Hoje dia 09/07/2021 o Brasil contabiliza 528.611 mil morte por COVID-19 e 18.908.962 casos - não é possível ignorar o que acontece com o mundo enquanto faço minhas criações e é impossível viver nesse mesmo mundo sem fazer aquilo que me deixa sentir vivo e também resistente, o que me faz externalizar aquilo que transborda o peito. Ali podemos ler números, mas eu vejo meu pai em todos eles.
Escrever nesse papel digital é diferente e difícil a cada dia, há momentos que se é possível escrever mais de uma sessão, e a há momentos como hoje que é quase impossível achar palavras que sejam minimamente plausíveis para expressar o que se passa comigo com relação a produção artística a ao encaminhar de uma pesquisa. A tela dói aos olhos, olhos que as vezes se encontram secos pelo tempo, ou muito alagados pelos sentimentos.
Além do clima de morte, há o desemprego, que bateu em minha porta 3 vezes só esse meio de ano, é complicado ser um jovem adulto sem aparato familiar que precisa se manter sozinha e estudar. Eu torço para que no fim da jornada o caminhar das pedras ofereça uma bela vista sob a montanha. Os trabalhos que são temporários mas que no final das contas seguram a 'barra', também estão parados, a vida dos teatros que eram o lugar de expor todo o potencial enquanto diretora de arte, se veem congelados no tempo e na poeira, as companhias teatrais estão paradas, nos vemos tentando nos manter com o meio virtual, mas sem ingressos e sem 'verba' não há muito pra onde correr. O mesmo aconteceu com o outro setor de eventos no qual atuo, que é o ramo da fotografia de casamentos, novamente outro campo que foi restringido, já que a não permissão de aglomeração é neste momento uma das medidas mais eficazes em combate ao vírus, então a celebração ao amor também se vê congelada e adiada. É necessário a todo momento buscar soluções para o problema que se torna cada vez mais perto e mais assolador.
Vem então a criação da 1°onda de leituras fotográficas, obras desenvolvidas durante todo o período de 2020. Momento este que se encontra ali descrito na barra do MENU deste site. Após a repercussão das mesmas nas redes sociais, vem a necessidade de aparar a pesquisa e o fazer artístico na academia.
Nesse contexto começo o processo do mestrado, é muito complexo escrever, organizar os pensamentos, aprender a fazer um pré-projeto, estudar, aprender a lidar com os sentimentos a todo momento, conciliar casa com trabalho, e novamente - lidar com o sentimento de insuficiência a todo momento enquanto se escreve sobre algo que afeta. Acredito que todo o artista passe por esse sentimentos em alguns momentos sobre suas criações e sobre sua vida, nesse momento se faz importante a escolha de quem vai dar suporte, guiar e orientar durante a caminhada do mestrado. Aqui eu mostrei meus interesses e fui acolhida pelo orientador professor Dr. Dalmir Rogério que em primeira instancia mostrou como a 1° Onda é a porta de entrada para um evolução e desenvolvimento de um processo mais profundo, simples e muito verdadeiro.
Abaixo segue um breve vídeo sobre o pré-projeto:
CADASTRO PLATAFORMA BRASIL
Após a estruturação do projeto, foi feito o cadastra na Plataforma Brasil.

CURRICULO LATTES
Artista Etnográfa - Arte Autobiográfica

Na disciplina Teatralidades Testemunhais com o professor Doutor Dalmir Rogério, tivemos nos nossos primeiros encontros acesso ao texto de FOSTER, Hal. "O artista como etnógrafo". In: "O retorno do real". São Paulo: CosacNaify, 2014, que foi o cerne de muitas discussões e alicerça também meu projeto durante todo este semestre.
Aqui trago minha Reflexão sobre o texto:
FOSTER, Hal. "O artista como etnógrafo". In: "O retorno do real". São Paulo: CosacNaify, 2014
O texto aborda alguns conceitos de artista enquanto estudioso das características de um determinado povo, grupo, cultura e etnia. Artista etnógrafo. E o que me deixou reflexiva foi o status presente com relação ao seu posicionamento enquanto objeto analisado. Pois ele pode cair na fantasia primitivista, onde o outro, a cultura do outro, que não é o homem branco em sua maioria, possui um estágio primário com relação a sua história cultural. Ele pode então obter o status de um artista com uma presunção da realidade, onde ele lança seu olhar julgador/racista sobre o outro.
E ele pode também se encontrar despido desse olhar pois se encontra imerso, pertencente, na identidade da comunidade e usa sua arte para falar/se posicionar de modo formal sobre assuntos/problemas da realidade que ele se encontra inserido e isto o leva a um momento inicial a um status de primitivizado e analisado por outros (uma instituição). O que também pode ser um rótulo assimilado e usado como ferramenta para levar a reflexão ao público.
Há a problemática da política de identidade sobre o pensamento do artista enquanto estudioso e crítico e da forma de tratamento dos assuntos de forma horizontal( conceito que eu só fui assimilar com a vídeo aula, que é a aproximação excessiva do artista ao processo), onde ele está familiarizado com a cultura e com a história, o suficiente para mapeá-la e narrá-la e de forma vertical (que é o afastamento excessivo do processo).
Me vem em mente então meu projeto, pois me encontro imersa no meio cultural ao qual trabalho com notícias, situações que ocorreram no ano de 2020/2021, reflexões, tanto do ponto de vista do fazer Artístico sob situação de lockdown, como dos temas que abordo que são emoções/anseios e situações que somos submetidos devido a pandemia. Trazendo também o olhar de uma artista mulher. Poderia me encaixar nesse status de artista primitivizado (não olho isto como um prejuízo ou algo do tipo) e até sem uma distância crítica (tendo em vista que muito do que gerou o meu trabalho foram emoções/anseios)?
Em meus textos reflexivos sobre as fotografias, encontrei dificuldades justamente na elaboração de Títulos/legendas para as obras e também precisei respirar e usar da razão para descrever minhas indignações e emoções que me levaram a criar as releituras do modo que as fiz, trazendo a história da arte como uma forma de entender o momento histórico vivido. Deste modo também me perguntei se eu soube manter e/ou se eu tive esse distanciamento crítico que é considerada a solução mais adequada para o artista enquanto representante de sua cultura/comunidade.
Também fui apresentada aos textos NA DIREÇÃO DE UMA ESTÉTICA DO SINTOMA/ IMAGENS DE UM NAUFRÁGIO da pesquisadora Ileana Diégues e SINTOMAS DO REAL da pesquisadora Silvia Fernandes. Ileana Diégues, junto com Hall Foster, Silvia, Janaina Leite e Didi-Huberman tornaram-se as maiores referências para a reestruturação do meu projeto, principalmente Ileana Diégues tendo como suporte textos dos seus livros "CORPOS SEM LUTO. ICONOGRAFIAS E TEATRALIDADES DA DOR". O segundo livro de Ileana Diéguez no Brasil, e o primeiro que foi ''CENÁRIOS LIMIARES'', tradução de Luis Alonso. Com esses textos fui apresentada aos termos e conceitos de ''teatralidades testemunhais'', ''sintoma'' e "autoescritura performativa'', que são palavras chaves pra a evolução do meu projeto.
Com disciplina de Metodologias de pesquisa em artes da cena, acrescento o termo ''Autoetnografia'', que se tornou outro alicerce importante para esta pesquisa, especialmente por nortear o método de pesquisa mais adequado ao projeto. No texto AUTOETNOGRAFIA: UM CAMINHO METODOLÓGICO PARA A PESQUISA EM ARTES PERFORMATIVAS das pesquisadoras Camila Matzenauer dos Santos e Gisela Reis Biancalana, no corpo do texto elas trazem um parágrafo elucidador:
Atualmente, segundo Ellis, Adams e Bochner, citados por Cano e Opazo (2004, p. 149), a autoetnografia comumente diz respeito a um modo de pesquisa em que se busca "valorizar a experiência do pesquisador através da descrição e análise sistemática para a maior compreensão dos aspectos do contexto ao qual pertence ou em que participa". Ou seja, enquanto Versiani fala sobre a presença das subjetividades como característica desse método, a última citação enfatiza novamente descrição e análise sistemática como ferramentas organizacionais importantes para a aplicação da autoetnografia na pesquisa. (SANTOS e BIANCALANA, 2017,p.86)
É então quase impossível falar do meu trabalho sem falar das experiências, meu contidiano e ambiente em que estou imersa e os sentimentos que percorrem meu ser, que resultam em pesquisas acadêmicas, tendo como suporte os mecanismos da direção de arte e da fotografia, culminando em obras de teatralidade fotográfica. Além de ser uma pesquisa autoetnográfica, pois há o impacto dos efeitos da pandemia o COVID-19 sob os temas das fotografias, também é uma pesquisa com uma pitada autobiográfica, pois há o impacto direto do momento caótico global sobre meu ser. As autoras então, trazem outro parágrafo importante sobre os temas:
Devido ao fato de valorizar a experiência do pesquisador sem desvincular suas impressões e intenções da pesquisa, compreende-se que elementos autobiográficos se fazem presentes no método autoetnográfico. Porém, é importante que haja diferenciação entre autobiografia e autoetnografia. Enquanto a primeira se restringe a descrever acontecimentos sobre aquele que escreve, a segunda insere um viés etnográfico, buscando relacionar o pessoal à cultura para o estudo e compreensão desta. (SANTOS e BIANCALANA, 2017,p.87)
Interessam então na metodologia escolhida, as questões que correspondem as inquietações enquanto pesquisadora e enquanto ser e todo o mais que reverbera delas, assim o caminho da autoetnografia se apresenta como a forma mais adequada, ao valorizar a experiência da artista na construção da pesquisa em arte e no processo criativo, o mesmo corpo que pesquisa, também é objeto de pesquisa ao ser colocado a jogo na construção de uma imagem que não é ilustrativa do corpo do texto e sim parte potente e independente por si só tornando as imagens como forma também de aproximação entre obra, artista e publico Ao mesmo tempo, durante o processo, há o desenvolvimento da tomada de consciência que vai se aprofundando a medida que o trabalho avança, pela constante reflexão do eu artista na relação entre o cerne da pesquisa e a obra.
O trabalho autobiográfico pode aparecer em forma de texto como o um diário ou um relato de uma experiência vivida. Mas não só o texto caracteriza um trabalho autobiográfico, as imagens, gestos, os movimentos também o são. O teatro do real está cada vez mais presente em vários setores, deslocados do palco, desprotegidos do aparato teatral - cena e plateia - chocando representação com realidade, presencial com virtual, o agora com o correspondente em obra no passado. Assim este trabalho não é pautado somente no texto mas sim nas duas medidas de mesmo peso entre imagem e textual.

A obra de arte é, antes de tudo, um processo de criação." Paul Klee.
Janeiro de 2021 tudo mudou, aguardava poder dar a boa notícia ao meu pai sobre minha aprovação ao programa de Mestrado, mas infelizmente ele faleceu em 11 de janeiro de 2021. Após 2020 inteiro de pandemia, 2021 seguindo com o caos, meu pai se torna mais um número na lista de óbitos de um período avassalador. Agora além da angustias do período pandêmico, a morte tocou duramente a porta da minha família.
Durante os meses seguintes, os estudos foram se aprofundando a medida do suportável, pois conciliar ter um emprego que estava prestes a ser demitida, um falecimento de ente querido, ser o suporte emocional para minha mãe, não foi e não está sendo algo fácil de lidar. A sombra da morte, do stress, da ansiedade e das preocupações em se sustentar (a si, a casa e aos 4 pets), sobreviver e manter saúde física e mental, são com toda certeza obstáculos de imensa dificuldade para um estudante de mestrado. E a vida continua...
Em maio, após um tempo para amadurecimento da ideia do pré-projeto, sob orientação do professor Dr. Dalmir Rogério, fui apresentada como dito no capítulo anterior, a termos que se fizeram reveladores e importantes para a construção do pensamento, tais como teatralidade testemunhal, imagem sintoma e site specific. Algumas pesquisadoras foram reveladas e se tornaram fontes referenciais para a evolução do projeto, entre elas o trabalho de Rosa María Robles através da análise de Ileana Diegués.
Sob orientação, fez-se a necessidade do estudo de caso a cerca do trabalho de Rosa María Robles, tanto para entendimento dos conceitos abordados tanto para propulsionar o desenvolvimento das próximas fotografias. Assim o texto base para o começo deste estudo é o "Na direção de uma estética do sintoma/Imagens de um naufrágio" de Ileana Diegués.
Devido ao fato de estar a um bom tempo longe da academia, estou um pouco enferrujada para ler os textos e entendê-los rapidamente, outro fator de colaboração para a lista de dificuldades que enfrenta o mestrando. Início assim em meio as atribulações pessoais e sociais, o estudo de caso sobre o trabalho de Rosa María Robles a partir do texto de Diegués.
O 2º semestre de 2021
Thomas Mann
Plano de ações
O PROJETO
Após então começar o estudo a partir dos textos recomendados sob orientação, novos caminhos foram apresentados para a construção do pensamento. Agradeço imensamente de ter como orientador o professor Dalmir, além da imensa bagagem intelectual, sou grata pelo acolhimento pessoal, pela paciência e sabedoria durante esse processo de ser meu guia pelo mundo do mestrado e da empatia com meu emocional.
A proposta de mudança de tema se torna muito bem colocada, pois o trabalho artístico fotográfico da 1º Onda e o que será desenvolvido após o estudo de caso, são mais do que fazer um relato das minhas experiências, dos anseios e daquilo que me atinge, mas também são uma forma de resistência, crítica e permanência frente a um país em tamanha crise e hostilidade.
NOVO TEMA DO PROJETO:
TEATRALIDADE FOTOGRÁFICA: IMAGEM SINTOMA E DIREÇÃO DE ARTE
Objetivo Geral:
Desenvolver uma pesquisa teórica e prática primeiramente com estudo de caso sobre o trabalho da artista Rosa María Robles entendendo os conceitos de imagem figurante, objeto sintoma, obras de arte como dramaturgia e representação, se embasando nos acontecimentos do contexto histórico atual de pandemia tendo como metodologia a pesquisa etnográfica, artográfica e autobiográfica, utilizando de fotografias, cenários, objetos e instalações, de maneira poética. Finalizando o processo através de uma exposição do trabalho fotográfico desenvolvido.
Objetivo Específico:
- Levantar, fichar, aprofundar e analisar materiais bibliográficos sobre os temas de teatralidade testemunhal, sintoma, representação, adequar o ambiente pessoal para um local de construção da cena, a fim de construir processo de aproximação com o objeto em questão;
-Compreender o corpo, a construção da imagem e o contexto histórico como elementos indissociáveis da composição e da realização performática;
-Investigar métodos de criação de artistas visuais, performers e diretores de arte.

Este semestre foi bastante intenso, trabalhei na direção de arte e na direção de fotografia de vários espetáculos desenvolvidos nos cursos Técnico em Arte Dramática, nos Curso de Qualificação em Teatro e nos Cursos de Pesquisa e Altas Habilidades (Corpo Cênico ) pela Escola do Futuro em Artes Basileu França totalizando 5 produções audiovisuais, 1 filme, 2 espetáculos ao vivo (estamos aos poucos voltando aos palcos) e 5 performances. Você pode acompanhar e/ou assistir as produções por este link (copie e cole no seu Browser ):
Espetáculos: Parênteses; Três Atrizes em busca de uma Autora;
Produções audiovisuais: Caliandra; Casa de Nelson; Incrível viagem de Brisa; Luz Azul; Pílulas Natalinas.
Filme: Festa entre Parentes.
Performances: Tulburare
Neste segundo semestre cursei duas disciplinas no Programa de Pós-graduação em Artes da Cena, que foram:
- Seminários Integrados de Pesquisa
- Dramaturgias da Cena
Como um plano a se seguir para estudos e alinhamento do pensamento nesse segundo semestre, desenvolvemos um plano de trabalho/estudos na disciplina de Seminário Integrado de Pesquisa, como um roteiro norteador para desenvolvermos nossa pesquisa durante esse semestre.
PLANO DE ESTUDO
Teatralidade Fotográfica e Montagem: na direção de uma estética do sintoma
OBJETIVOS:
Geral
Compreender o conceito de imagem sintoma e fotoperformance. Expor as fotografias desenvolvidas a partir do estudo desses conceitos e do estudo do trabalho ''La Rebelión dos Iconos'' da artista mexicana Rosa Maria Robles, usado como suporte para aprimorar o discurso das narrativas, das relações afetivas e processuais das minhas fotografias perante esse período de pandemia. Progrediar a autoescritura performativa.
Objetivos específicos
Levantar bibliografias acerca de autores que estejam de acordo com o tema desta pesquisa, esquadrinhar os conceitos teóricos de objeto sintoma, sintoma a partir de Didi-Huberman, compreender a metodologia de autoescritura performativa e fotoperformance. Analisar o trabalho da artista Rosa Maria Robles a partir de Ileana Diéguez. Escolher as obras e locais que serão usados para a criação das obras fotográficas.
(Esses OBJETIVOS foram melhor reformulados após o acompanhamento em aula online com o professor Alexandre Donizete)
Cronograma
- Julho/Agosto
Revisão da bibliografia. Discussões acerca de metodologia, sobre a Autoescritura performativa partindo do trabalho da pesquisadora Janaina Leite. Levantamento bibliográfico de autores que abordem sobre o tema e sobre fotoperformance. Readequação do projeto de pesquisa
- Setembro
Revisão do projeto e da bibliografia
Leitura dos textos: *Capítulo 8: Na direção de uma estética do sintoma/ Imagens de um naufrágio Livro Corpos sem luto: iconografias e teatralidades da dor/ Ileana Diéguez. *Sintomas do Real no Teatro. Silvia Fernandes
* Autoescrituras performativas: do diário à cena. As teorias do autobiográfico como suporte para a reflexão sobre a cena contemporânea. Janaina Fontes Leite
*Escrita de si como performance. Diana Kliger
* Na caverna de Platão. Susan Sontag.
* Nina Ribeiro A Fotografia como Corpo Performatizado: a autoridade da imagem construída Niura Legramante Ribeiro Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2016 Apreciação da live: Janaina Leite / Masterclass Lab Cultural https://www.youtube.com/watch?v=fptoSRT0TtI Rebeka Caroça - Escrita Performática https://www.youtube.com/watch?v=UvYD_zf6DNY Festival de Dramaturgia - Aula aberta 20/04 com Janaina Leite https://www.youtube.com/watch?v=rL8a2wby7iE
- Outubro
*Estudo de caso do trabalho da artista Rosa Maria Robles
*Fichamento do texto: Capítulo 8: Na direção de uma estética do sintoma/ Imagens de um naufrágio. Livro Corpos sem luto: iconografias e teatralidades da dor/ Ileana Diéguez. Leitura para entendimento dos conceitos: *Georges Didi-Huberman e o sintoma das imagens por Laís Kalena Salles Aragão
*A HISTÓRIA DA ARTE COMO SABER DOS SINTOMAS. Everton de Oliveira Moraes
*IMAGEM E ANACRONISMOS EM DIDI-HUBERMAN. Seminário regular do
Grupo Museu/Patrimônio. Anna Maria Rahme Prof. Dra. Pesquisadora Grupo
Museu/Patrimônio. FAUUSP
- Novembro
*Estudo de caso do trabalho da artista Rosa Maria Robles
*Cap 8: Na direção de uma estética do sintoma/ Imagens de um naufrágio Livro Corpos sem luto: iconografias e teatralidades da dor/ Ileana Diéguez.
*Começar a Escrita do Capítulo 1 - Estudo de caso
Deste cronograma, considero que consegui avançar boa parte. Revi em orientação sobre a forma da Autoescritura performativa, li a pesquisa de Janaina Leite e o texto de Diana Kliger para melhor nortear esta escrita pois é a forma em que eu coloco no papel minha pesquisa e suas imbricações (forma esta que estou fazendo como neste site).
A antiga lista de bibliografia foi lapidada, deixando agora mais sucinta e mais direcionada. O Livro 'Corpos sem luto' de Ileana Diéguez se fez o pilar desta pesquisa juntamente com os livros Diante da Imagem e Quando as imagens tomam posição, de Didi-Huberman. Principalmente Diante da Imagem, onde Didi-Huberman aborda o conceito de imagem sintoma.
Adentrei no estudo do texto onde Ileana aborda o trabalho da artista e pesquisadora Rosa Maria Robles (Na direção de uma estética do sintoma/ Imagens de um naufrágio Livro Corpos sem luto: iconografias e teatralidades da dor/ Ileana Diéguez). Neste momento sigo fazendo esse levantamento de como Rosa aborda a questão da violência e do narcotráfico com as obras de arte escolhida por ela, utilizando de objetos reais deslocados das cenas de crime e punição dos narcotraficantes, para compor suas criações fotográficas.
A escrita do primeiro capítulo ficou para o inicio do semestre logo após esse aprofundamento do trabalho de Rosa e das definições das próximas obras de arte que irei abordar na minha pesquisa.
Atravessamentos. Reflexões sobre a disciplina Seminários
Várias foram as formas de estudo, de pesquisar, de construir o pensamento acadêmico nos apresentaram durante a disciplina. E algo bastante importante foi tocado pelo professor Alexandre onde a Pesquisa, o método em Arte, há rigor científico e estes métodos em pesquisa são construídos de forma a valorizarem as questões em arte. Estando assim, as metodologias em função do nosso trabalho. Cabe a nós encontrar esse caminho que melhor apoie e demonstre a qualidade daquilo que se faz. Como o professor disse: É preciso errar, para encontrarmos o caminho. Perder o medo de errar, se corrigir e encontrar um suporte metodológico, uma boia, é algo que nos faz sair desse lugar de estar náufrago no meio do oceano chamado pesquisa.
Outra discussão pertinente sobre caminho metodológico e processo criativo veio com a profa. Marlini a cerca da Poetnografias e de Performance. Onde a professora ainda enriqueceu o pensamento e acalentou nossos corações acerca dos amadurecimentos e desdobramentos dos conceitos e evoluções que a pesquisa sofre a todo momento, as insurgências que fazem a forma de repensar a metodologia, algo recorrente a todo momento no caminho do pesquisador em arte, (pelo menos muito presente nessa minha turma de mestrado), que gera atualizações e que isso é o caminho normal da pesquisa. E a autocritica que é algo que também é motivador da pesquisa, uma ferramenta para lapidar as bordas do processo e ajudar como um medidor, uma bússola pra não se perder durante as descobertas. A Poetnografia que aborda o campo vivido, a experiência pessoal, a presença do corpo, ''lugares-momento'' e as narrativas semi-ficcionais, são perspectivas muito próximas do meu trabalho, pois envolve essa correlação do eu com o que se vive, se ouve e se sente.
O professor Newton trouxe o convidado Prof. Dr. Eduardo Okamoto que trata da metodologia em arte não como se dedicar a algo que a gente pode reproduzir em projetos futuramente, um regra dura e tácita, mas sim pensar o caminho, restituir o processo que nos levou a construção do trabalho que foi findado, executado, resgatando a sabedoria implícita durante as decisões que tomamos no percurso, tendo assim instrumentos e habilidades para pensar o trabalho desenvolvido no agora, pois as circunstâncias são outras, nossa bagagem aumentou, o tempo em que estamos mudou, então o processo do caminho também muda. Como o professor Newton frisou, é importante colocar nosso relatório de pesquisa, que é isso nossa dissertação, um relato da nossa trajetória dentro da pesquisa em arte, o que deu certo e que foi pra caminhos contrários, o que foi aprofundado devido ao momento e possibilitado pela experiência.
O fala de Okamoto sobre o espetáculo 'Agora e na hora de nossa hora (2004)' que é um espetáculo desenvolvido a partir de uma relato de experiência vivida pelo professor durante sua iniciação cientifica na graduação, projeto esse desenvolvido a partir de pesquisa da mimese corporal, da observação da realidade ao qual se tira os materiais/ferramentas para compor a atuação teatral, fez com que eu voltasse meu olhar para a maneira de pensar o processo criativo, a minha pesquisa e o processo artístico da minha investigação neste programa de pós-graduação, pois minha pesquisa é o relato da minha experiência, da utilização da minha bagagem enquanto diretora de arte e fotógrafa, ferramentas para a construção da imagem enquanto dramaturgia, e da minha experiência pessoal coberta pelo olhar enquanto artista pesquisadora, nesse momento em que estamos imersos numa poeira pandêmica, de dor, sequelas, medo e morte. Com a abertura do professor Newton em também expor sua narrativa de pesquisa, sobre o que fica, o que nos toca durante essa nossa busca, as ausências que nos causam vazios e nos movem também, sobre o que é 'academicamente aceito' e sobre esse momento desbravador que encontramos agora numa academia decolonial, me fez abraçar ainda mais esse eu-pesquisadora que busca explanar o caminho de olhar/espaço/momento/sentimento, encontrar e fortalecer as ferramentas de pesquisa durante a construção do processo criativo e de fala despida de qualquer arrogância, buscando se posicionar e se enxergar na sociedade e o papel da minha pesquisa na mesma.
Dramaturgias da Cena
Nesta disciplina alguns textos dialogaram muito bem com a minha pesquisa e o principal deles foi 'Considerações acerca do Teatro Visual e da Dramaturgia da Visualidade - Wagner Cintra'. Chegando então à Dramaturgia das imagens
Considerações acerca do Teatro Visual e da Dramaturgia da Visualidade - Wagner
Cintra
"O Teatro Visual é indissociável das artes plásticas, sobretudo da pintura, e tem como princípio a utilização das mais variadas matérias como substância criativa, incluindo a presença ativa do ator, que é entendido como mais um elemento da criação teatral."
Minha pesquisa utiliza das características da pintura, no qual desenvolvi estudos sobre posicionamento de luz que é um dos componentes responsáveis por guiar o olhar do espectador e um dos elementos construtores da dramaticidade da cena, velando, revelando, os objetos posicionados no espaço para serem lidos.

Estudo
de Luz:
-Luz Loop
-Luz Rembrant
-Luz Borboleta
-Luz Split
-Luz Ampla e Luz Curta

Ressalto alguns pontos abordados no texto:
"...o Teatro Visual, o espaço tem especificidades, no caso, a exemplo da pintura que tem a tela como suporte, o Teatro Visual precisa de uma relação frontal de observação."
"A ação da luz no espaço é outro instrumento importante pois... o jogo de sombra e luz, como na obra de Caravaggio e Rembrandt, mestres do chiaroscuro, trabalha com um fundo totalmente escuro trazendo para o primeiro plano da cena os tons mais claros(...)."O jogo com a escuridão, na contextura do chiaroscuro, põe o espectador à beira de um transe. O escuro funciona como uma página em branco que o observador tenta insistentemente preencher com a sua imaginação. As imagens surgem da escuridão e deslocam o espectador da cotidiana comodidade espacial e temporal, conduzindo sua atenção para os valores específicos contidos nas imagens enigmáticas que compõem a obra."
Passo então a ter uma transformação do pensamento crítico artístico, onde busco fazer a resistência e a crítica a situação que assola o país e a cidade que habito ingerindo das obras de arte cânones como um suporte mas também a partir da utilização de um objeto que marcou profundamente um momento da minha vida e da minha família. Em decorrência dos inúmeros casos de pessoas com COVID e da desorganização e descaso do governo atual, tive em minha família uma vitima fatal dessa sombra de morte que pairou sobre o mundo e fez o que fez sem freios no nosso país. Meu pai que era um homem grande, ao ficar internado sofreu muito com o desamparo médico, com a falta de pessoal capacitado e a sobrecarga do sistema de saúde publica, ao ficar entubado com parada dos rins que virou pneumonia que foi pra infecção generalizada e para o contágio com super- bactéria, levando a óbito, meu pai sentiu muito frio durante os dois meses que ali esteve. O cobertor usado para 'acalentar do frio' não era suficiente para cobrir todo seu corpo e nem para gerar calor, estava apenas ali sobre o corpo que sofria e depois foi usado para tampar o rosto do corpo que não mais respirava.
O trabalho de Rosa Maria Robles:
Nascida em Culiacán, Sinaloa, México, em 1963, estudou pintura na Escola de Artes e Ofícios da Universidade Autônoma de Sinaloa, complementando sua formação na Escola Nacional de Pintura, Escultura e Gravura "La Esmeralda" da Cidade do México. Um dos temas recorrentes em sua obra é a violência, a morte, a indiferença e a crise generalizada que a um tempo se instaurou no México, usando a arte como meio de denúncia para provocar a reflexão.


Em seu trabalho Navajas ( primeira e segunda parte -La Rebelión de los iconos 2007-2012) desde 2007 a artista realiza este projeto a partir da agonia da violência e da crise instaurada no México. O excesso sensorial forçado pela visão das atrocidades praticadas sobre os corpos tem marcado uma interpelação notável nos trabalhos artísticos e seus discursos.
3 linhas de entrecruzam a cena-em-espaço de Navajos:
-Espetacularização das formas de violência que cortam a vida privada e pública no México. -A exposição do vestígio para produzir uma elaboração artística do documento; -Representação alegórica da teologia do politico que sustenta os pilares da sociedade, visibilizando a violência fundante e sagrada que fundamenta os discurso, as historias , as ficções e a a alta teatralidade do nosso tempo. - -
*Me apoio nesse trabalho de Rosa que utiliza dos vestígios da violência para produzir suas obras artísticas, onde trago como objeto de cena deslocado da realidade para o palco o Lençol-cobertor de hospital, que é carregado de símbolo. Possui textura, caimento, propriedade de reter cor, sangue, suor, esquentar( ou não) e encobrir as vitimas do COVID.

-Objeto real
deslocado para a teatralidade fotográfica
-A palavra sintoma relaciona-se, portanto, ao mesmo tempo, àquilo que interrompe a ordem e ao que instaura uma estrutura significante A isso, o autor acrescenta que "o que a imagem-sintoma interrompe não é senão o curso da representação
Entrando no contexto de Dramaturgia das Formas:

"O Teatro Visual é o puro teatro de
emoções em que as imagens se comportam como símbolos - sublimidades
desaparecidas da vida moderna que nos permite uma experiência epifânica, ao
sermos arrebatados para o interior da tela que, por meio das revoluções e
transformações da matéria, destitui o pensamento racional e nos faz transcender
a nossa realidade física e quotidiana. Essa é uma experiência próxima do
espiritual por meio de uma vivência estética profunda."
O lençol- cobertor de hospital, é objeto sintoma que não esta no lugar de outra coisa, mas é ele mesmo, real em cena, deslocado de sua função habitual trabalhando como um signo secreto, operando na função de desassossego, como uma imagem-ardente como propõem Didi-Huberman:
"Saber
olhar uma imagem seria, de certo modo, ser capaz de distinguir o lugar onde a
imagem arde, onde sua eventual beleza reserva um lugar a um 'signo secreto', a
uma crise não apaziguada, a um sintoma." (2012,26)

Bibliografia
"O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém um meio indispensável." Candido Portinari
Aqui consta a bibliografia utilizada para a construção deste projeto.

DID-HUBERMAN. Quando as Imagens Tomam Posição: O olho da
História, I. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2017.
CABALLERO, Ileana Diéguez. Cenários liminares: teatralidades, performances e política. EDUFU, 2011.
DIÉGUEZ, Ileana. Corpos sem Luto: iconografias e teatralidades da dor. Teatro Popular de Ilhéus. ,2020.
DID- HUBERMAN, Georges. Sintoma. In: Diante da Imagem. São Paulo: Editora 34, 2015
FOSTER, Hall. O artista como etnógrafo. In: O Retorno do Real. São Paulo: Cosacnaify, 2014.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Ed. 34, 2009. v.1. (usei a pg68)
SIMIONI, A. P. C. (2016). A difícil arte de expor mulheres artistas. Cadernos Pagu, (36), 375-388. Recuperado de <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8645000 >. Acesso em 05 de setembro de 2020.
PEREIRA, Dalmir Rogério. O Desenho da Performance no Contexto da 14ª Edição da Quadrienal de Praga: Teatralidade testemunhal em This Building Talks Truly. Cena, n. 31, p. 6-16, 2020.
SAMAIN, Etienne (org.). Como pensam as imagens.
Campinas: Editora Unicamp,
2014
BENJAMIN, Walter et al. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. 2013.
NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes mulheres artistas?. Trad. Juliana Vacaro. São Paulo: Edições Aurora, 2016. Disponível em: <https://issuu.com/pontoaurora/docs/6_ensaio_linda_nochlin> Acesso em 01 de setembro de 2020.
BERTOCHE, Gustavo. A obra de arte Segundo Heidegger. Edição do Autor. 2006. Rio de Janeiro.
CANTON, Katia. Espelho de artista: autorretrato. São Paulo: Cosac Naif, 3ª ed., 2004.
ZIEGLER, André Martins; FACHEL, Rosângela. A POÉTICA DA AUTOFICÇÃO. Seminário de História da Arte-Centro de Artes-UFPel, v. 2, n. 8.
PAREYSON, Luigi. Os Problemas da Estética. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
FABRIS, Annateresa. Identidades Virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.